segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Repensando o cotidiano e alimentando os sonhos

Repensando o cotidiano e alimentando os sonhos




“Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...”
Olavo Bilac - O Pássaro Cativo



Relendo “A ida ao teatro” de Ingrid Koudela me despertou a necessidade de pensar o meu fazer cotidiano com o trabalho “Arte na Casa” desenvolvido pela Ong Ação Educativa na Fundação Casa, projeto que desenvolve oficinas artísticas com os jovens que estão cumprindo medidas sócio-educativas. Propomos diversas linguagens artísticas como cênicas (teatro e gestual), corpo (danças circulares, dança de rua, capoeira...) palavra (literatura, rap, fanzine), visuais (desenho e pintura, graffiti, escultura, toy art) e diversos workshop.

No desenvolver das atividades percebo que se sentem livres, pois conseguem sair das grades da instituição e propor outro vir a ser ou como sugere o texto de Koudela criam ilhas de liberdade neste caso, para além da alienação da mídia e da sociedade de consumo que vendem produtos culturais enlatados e engessados, mas também para além das grades, como se libertasse o pássaro cativo.



A intenção principal do trabalho é desenvolver uma relação de afirmação da identidade com as “quebradas” que moram (regiões que vivem), em suas maiorias residentes das periferias e publicizar os espaços de cultura e lazer existentes nestes lugares, ampliar o olhar para estes espaços por vezes invisibilizados pelo cotidiano.

Parece-me a proposta da construção do conhecimento, da intenção de aumentar o ciclo de conhecedores e apreciadores da arte. O contato com as linguagens culturais periféricas está proporcionando a aproximação com o propor outras linguagens, olhares e visões de mundo. É a tal inclinação para arte que tem que ser fomentada já que não pode ser entendida, a meu ver, como natural e sim como cultural, socialmente desenvolvida.

Acredito ser revolucionária a quebra do monopólio do conhecimento e do vivenciar artístico. Faz necessária a ampliação deste acesso cultural tanto físico como simbólico, transformando os espaços culturais em ilhas de liberdade diante da ocupação da fantasia pela mídia e a sociedade de consumo (koudela). Evidentemente isto não se dá de uma hora para outra, portanto o desenvolver das atividades e a proposta do pensar criativo e autônomo é o caminho que visualizo e que tem que ser desenvolvido na educação cotidianamente tanto como tema transversal como sensibilização estética e específica da arte.

Sinto com o processo de formação destes jovens a capacidade de transformação na visão de mundo, a esperança de outro olhar para sociedade. Sim, fico muitas vezes frustrada, mas descrente nunca. Sinto a capacidade que a arte tem de sensibilizar e despertar. Cabe destacar que não acredito que a arte é a salvação da humanidade, até porque não acredito que aja uma questão isolada que tenha esta capacidade, para ser ainda mais sincera, não acredito em salvação, mas em transformação. E ai sim, a arte contribui como ferramenta de impulso e prazer.

Preparar o educando e o educador para este processo de conhecimento, do aprender, do vivenciar e sentir é passo importante para chegarmos à democratização da arte e do acesso. No cotidiano da sala de aula, no despertar para leitura, no envolver dos jogos teatrais, no fazer coletivo, no abrir das cortinas e no desvendar dos mistérios um mundo novo pode começar a existir.

Façamos das periferias, pólos de criação e produção cultural. Potencializemos os artistas populares e comecemos a nos orgulhar do nosso próprio fazer e de nossa potencia de transformação, façamos de nosso cotidiano educacional um experimento de “Um outro mundo possível” despertando diariamente a sensibilização e o questionamento crítico dos nossos educandos e saibamos aprender no processo de aprendizagem.



A última palavra ainda não foi dita.

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